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Estratégias para aumentar a permeação transdérmica de fármacos e cosméticos (Parte II)

Conforme falamos em artigos anteriores, a pele apresenta-se como uma barreira à penetração dos fármacos (confira esse post), por isso é fundamental o desenvolvimento de metodologias que aumentem a penetração de fármacos e cosméticos através da camada córnea. No nosso último artigo sobre o assunto, tratamos da estratégia de otimização da formulação (métodos passivos).

Agora, trataremos dos métodos ativos, que têm como estratégia o uso de tecnologias que utilizam uma força motriz para atuar sobre o fármaco e/ou sobre a pele.

 

Métodos ativos

No que concerne aos métodos ativos, existem muitas tecnologias em estudo, como a iontoforese, a eletroporação, a sonoforese, as microagulhas, a injeção sem o auxílio de agulhas, a microdermoabrasão, a microporação por laser e a ablação térmica ou por radiofrequência. Na tabela abaixo você encontra um resumo de cada uma dessas técnicas.

 

Método AtivoPrincípioMecanismoEstratégiaVantagemDesvantagem
Iontoforese por eletrorrepulsãoAplicação de uma corrente elétrica de baixa intensidade.Repulsão de moléculas do fármaco carregadas por um eletrodo de mesma polaridade, que as força a entrar na pele.Difusão de moléculas carregadas eletricamente.Velocidade de liberação do fármaco é dependente da corrente aplicada, ou seja, a liberação pode ser controlada.Valor máximo da corrente aplicada limitada pela irritação e dor.
Iontoforese por eletroosmoseAplicação de uma corrente elétrica de baixa intensidade.Origina um fluxo de solvente do ânodo para o cátodo.Difusão de moléculas neutras.Velocidade de liberação do fármaco é dependente da corrente aplicada, ou seja, a liberação pode ser controlada.Valor máximo da corrente aplicada limitada pela irritação e dor.
EletroporaçãoAplicação de uma corrente elétrica em pulsos de duração reduzida.Aumentar a permeabilidade da pele através da abertura de poros aquosos de forma reversível.Aumento da difusão ou eletroforese, dependendo das propriedades da molécula.Combinada com outras técnicas tem provado aumentar a sua eficácia e segurança.Depende de uma definição das propriedades físico-químicas da molécula para correta administração da corrente elétrica.
Sonoforese (ou fonoforese)Energia de ultrassons aplicadas à pele.Promove aumento da permeabilidade da pele e o seu aquecimento, provocando aumento na fluidez dos lipídeos.Provoca cavitação, formando bolhas de gás que crescem e depois estouram, provocando pequenas cavidades na camada córnea.Potencial de aplicação de vacinas, hormônios e anestésicos.
MicroagulhasAgulhas de dimensões muito reduzidas, suficientemente longas para penetrar as camadas superiores da epiderme, mas curtas para alcançar os terminais nervosos da pele.Criação de microcanais para ultrapassar a camada córnea.Microagulhas sólidas (fármaco reveste a agulha) ou microagulhas perfuradas (interior vazio auxiliando a difusão da formulação).Não induz a dor ou sangramento. Não há risco de microorganismos atravessarem a epiderme viável. Somente as microagulhas tem que ser esterilizadas.
Injeção sem auxílio de agulhasAdministração de partículas sólidas e líquidas a alta velocidade.Princípio ativo disparado a altas velocidades através da camada córneaMelhor adesão terapêutica por parte dos pacientes, pois é menos dolorosa.
MicrodermoabrasãoUtilização de cristais abrasivos na superfície da camada córnea.Microcristais atingem a superfície cutânea, levando ao dano mecânico (esfoliação).Usado para fins cosméticos, aumenta a permeabilidade da pele.Aspecto da pele geralmente é melhorado com a renovação da camada córnea.
Ablação térmicaAplicação de altas temperaturas na pele, pela utilização  de energia térmica, durante curtos intervalos de tempo.Formação de microcanais na camada córnea quando ocorre a rápida vaporização de água na sua superfície.Moléculas penetram nas camadas inferiores da pele pelos microcanais formados.Devido a alta temperatura ter sido aplicada (frações de segundo), não propaga o calor para as camadas mais profundas da pele.
Ablação por radiofrequênciaAplicação de ondas de radiofrequência (100 a 500 Hz), provocando a vibração dos eletrodos na superfície da pele e um consequente aquecimento localizado.Formação de microcanais na camada córnea quando ocorre a rápida vaporização de água na sua superfície.Moléculas penetram nas camadas inferiores da pele pelos microcanais formados.Devido a alta temperatura ter sido aplicada (frações de segundo), não propaga o calor para as camadas mais profundas da pele.
Microporação por laserAplicação de laser sobre a pele.Formação de microcanais na camada córnea quando ocorre a rápida vaporização de água na sua superfície.Moléculas penetram nas camadas inferiores da pele pelos microcanais formados.Devido a alta temperatura ter sido aplicada (frações de segundo), não propaga o calor para as camadas mais profundas da pele.Possibilidade de hiperpigmentação na zona de aplicação e elevados custos.

 

Combinação de técnicas

A combinação de diferentes métodos tem demonstrado um excelente efeito no sentido de aumentar a permeabilidade da pele. Podem ser realizadas diferentes combinações de estratégias dentro das metodologias ativas, ou entre ativas e passivas, como, por exemplo, iontoforese e microagulhas, iontoforese e promotores químicos, iontoforese e eletroporação, eletroporação e promotores químicos, microagulhas e sonoforese, e, finalmente, sonoforese e promotores químicos.

 

O problema da irritação da pele

Todas as estratégias para aumentar a permeação transdérmica devem ser submetidas à prova da irritação da pele na zona da sua aplicação.

Essa irritação pode manifestar-se:

  • como uma resposta inflamatória causada pela exposição direta ou repetida a substâncias irritantes (causando eritema ou queimaduras necróticas);
  • como uma resposta inflamatória retardada a um determinado alergènio (causando eritema ou edema).

Para diminuir a irritação na pele podem ser aplicadas diversas estratégias:

  • tamponização de formulações, mantendo o seu pH o mais próximo possível do pH da pele;
  • adição de emoliente às formulações, reforçando a barreira da camada córnea;
  • aplicação prévia de esteroides na pele ou a sua incorporação nas formulações;
  • incorporação nas formulações de anti-irritantes, como glicerol ou lobetasol.

 

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Fonte: Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada., 2015; 36(3); 337-348 ISSN 1808-4532; “Permeação cutânea: desafio e oportunidades”.
Permeação Cutânea, Testes farmacêuticos